EDIÇÃO Daniel Feix daniel. feix(zerohora.com.br Ticiano Osório ficiano.osorio(Dzerohora.com.br FOTO DE CAPA Francis Cormon,
Divulgação DIAGRAMAÇÃO Bianca Weschenfelder,
Douglas Menezes e Jéssica Jank LARISSA ROSO larissa.rosoOzerohora.com.br Professor titular do Programa de Pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), o psicólogo porto-alegrense Christian Kristensen atuou como consultor em um comitê formado por especialistas para orientar e revisar um relatório conduzido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o impacto da pandemia na saúde mental. Uma das principais conclusões destacadas no documento é o aumento de cerca de
25% nos quadros de ansiedade e de depressão. A partir da experiência clínica e como pesquisador;
Kristensen fala, nesta entrevista,
sobre outras consequências da crise sanitária do coronavírus, como a sobrecarga dos serviços de saúde e repercussões futuras.
- Não é que estejamos todos no mesmo barco. Estamos todos no mesmo oceano, mas em barcos diferentes. Algumas pessoas têm mais recursos para lidar com isso do que outras. Ainda que a pandemia afete todos, não afeta todos da mesma forma - reflete o psicólogo.
2 S ZERO HORA | SÁBADO E DOMINGO | 7 E 8 DE MAIO DE 2022
PSICOLOGO, 52 ANOS Professor da Pucrs, atuou como consultor em comitê formado pela Organização Mundial de Saúde sobre o impacto da pandemia na saúde mental da população A GENTE CRESCE MAIS NA DOR DO QUE NA ALEGRIA O IMPACTO DA PANDEMIA NA SAÚDE MENTAL FOI MUITO SEVERO. O QUE SE PODE DESTACAR NESSES MAIS DE DOIS ANOS?
O principal é compreender o impacto da pandemia em dois polos: ela levou a uma enorme demanda por questões de saúde mental e impactou na oferta, nos serviços existentes para atender a essa demanda - negativamente, no sentido de afetar o funcionamento da maior parte dos serviços de tratamento para saúde mental no mundo. É a tempestade perfeita:
um aumento enorme da demanda e um impacto tão grande quanto na capacidade de atender essa demanda. Pessoas começaram a ter problemas de saúde mental em função da pandemia e outras tiveram agravamento de uma condição pré-existentes. No início,
quando ninguém sabia muito bem com o que estávamos lidando,
como as formas de contágio,
houve aumento significativo de ansiedade, medo, preocupação,
sintomas obsessivo-compulsivos.
Com as medidas de distanciamento e isolamento, redução das atividades e das relações sociais,
teve uma alteração importante na rotina e - consequentemente
— nas questões mais ligadas à depressão. O relatório mostra que houve aumento em torno de 25%
nos quadros de ansiedade e de depressão no mundo. Esses dados são mais confiáveis em países desenvolvidos e menos confiáveis em países em desenvolvimento,
mas não há razão para pensar que isso seja menos prevalente.
QUE OUTROS FATORES FORAM PREPONDERANTES?
ADOECIMENTO, MORTE DE FAMILIARES, PERDA DE RENDA, MUDANÇA DE PADRÃO DE VIDA, FALTA DE PERSPECTIVAS...
VOCÊ VÊ MOMENTOS BEM MARCADOS OU TUDO FOISE MISTURANDO?
É como se fossem tintas que foram se misturando. As questões de medo e suas variações,
ansiedade e angústia, estavam mais presentes no início. Depois,
à medida que ficamos tendo mais conhecimento sobre como se dava a transmissão, as pessoas foram se habituando. Temos um mecanismo de habituação ao medo, que foi diminuindo. Mas as medidas de isolamento e distanciamento levaram a alterações na rotina das pessoas com impactos diferentes em diferentes grupos etários.
O impacto foi muito pesado
"A gente cresce mais na dor do que na alegria
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