Desigualdade e pobreza de uma parcela significativa da população, no Estado e no país, são um problema antigo à espera de solução e acentuado com a pandemia. Essa situação, como mostra pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), atinge de forma cruel especialmente as crianças, diminuindo as chances de uma vida digna em termos de condições materiais ao chegarem à vida adulta. E um ciclo que se perpetua, quando vierem a formar as suas famílias. Esse é um tema que, além da gravidade em si, é uma trava ao desenvolvimento.
Deve ser, portanto, uma das prioridades dos eleitos em outubro para os cargos do Executivo e do Legislativo, nos níveis nacional e estadual.
O trabalho concluiu que, no Rio Grande do Sul, ao final do ano passado, existiam 208,8 mil crianças de zero a seis anos em situação de pobreza. Ou seja, 24% dos pequenos nesta faixa etária da primeira infância sobrevivem com uma renda per capita equivalente a menos de US$ 5,5 por dia, conforme o levantamento do PUCRS Data Social: Laboratório de Desigualdades, Pobreza e Mercado de Trabalho. O percentual do Estado é o segundo menor do país, superior apenas ao de Santa Catarina (17,6%) e bem abaixo da média brasileira (44%). Mesmo que seja uma posição privilegiada em relação à realidade nacional, não é um patamar tolerável e é preciso persistir e aperfeiçoar políticas públicas para levai" este índice a níveis cada vez menores. Em 2014, o percentual do Estado era de 23,6%.
Fazer frente a esse desafio depende de medidas com impacto imediato, mas também de iniciativas estruturantes, com reflexo no longo prazo. Em primeiro lugar, como mostram os responsáveis pelo estudo, não há como, neste momento, dispensar programas de transferência de renda. Será necessário repensá-los a partir do próximo ano, para serem mais eficientes. Sabe-se também que alunos com fome, pelas deficiências de desenvolvimento que apresentam, aprendem menos em sala de aula. Muitas crianças fazem nas instituições de ensino a principal refeição do dia. Mas, por estes dias, também se discute o problema da falta de financiamento adequado para a merenda escolar. São questões interligadas.
O minucioso levantamento também conclui que o quadro se agrava em zonas rurais e afeta mais crianças negras. Confirma ainda que, quanto mais anos de estudo têm os país, menor é a pobreza em que vivem os filhos. Aí está mais um indício robusto, amparado em dados, a provar que a escolaridade é vinculada ao potencial de obtenção de renda na vida adulta. Não é aceitável conviver com estes níveis de pobreza na infância observados no país e mesmo com os constatados no Estado. Superar essa chaga depende, além de uma economia mais forte que se reflita no nível de ocupação e na elevação da renda, de ações concatenadas na seara assístencial, na rede de proteção à infância e na busca por melhorar a nutrição oferecida nas escolas. Mirando um horizonte mais largo, com o objetivo de quebrai" o círculo vicioso de poucos anos de estudo e miséria se retroalimentando, é preciso requalificar o ensino público e garantir uma aprendizagem capaz de legar um futuro melhor para essas crianças. Que os novos gestores e parlamentares escolhidos pela população no próximo mês compreendam o quanto é forçoso começai" a reverter essa lamentável condição atual.
Uma prioridade para os eleitos
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