JONATHAN HECKLER Presente nesta reportagem, o jornalismo de soluções é uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto,
focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
JORNALISMO DE SOLUÇÕES MERCADO DE TRABALHO Iniciativas recentes anunciadas ou implantadas por poder público e empresas tentam equilibrar o cenário, que atualmente ainda é desigual ALINE CUSTÓDIO aline.custodioQzerohora.com.br Um estudo divulgado neste mês pelo Pucrs Data Social, da Pontifícia Universidade Católica do RS, sugere que o gênero ainda é elemento relevante no mercado de trabalho no Estado, em prejuízo das mulheres. A análise se junta a outras pesquisas que indicam situação semelhante no Brasil e no mundo. Na tentativa de mudar esta realidade,
iniciativas do poder público, de entidades privadas e empresas se tornam cada mais presentes.
No Dia Internacional da Mulher, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou novas medidas. Entre elas, um projeto de lei para promover a igualdade salarial entre homens e mulheres que exerçam a mesma função. A proposta deve ser enviada ao Congresso.
No Levantamento sobre Desigualdade de Gênero no RS,
do Pucrs Data Social, o problema se confirmou em 2021.
Enquanto mulheres gaúchas tiveram média de R$ 15,40 por hora remunerada de trabalho,
homens ganharam, em média,
R$ 1840 por hora (ver gráfico).
Um cenário que vem se mantendo nos últimos 10 anos, apesar de a força feminina representar
43,2% da população ocupada no Estado. Outro dado divulgado pela pesquisa mostrou que, em
2021, a renda entre os homens era 37,2% maior do que entre as mulheres: elas tiveram média de R$ 2.380 e eles, de R$ 3.267.
Professora adjunta do Departamento de Ciência Política da UFRGS, Cibele Cheron avalia que o projeto de lei proposto pelo governo federal é significativo porque prevê punição em caso de descumprimento das normas a serem definidas:
— O pacote traz a obrigatoriedade, que é uma palavra que não existia até então, e a pena para um cenário em que as punições ainda são muito frágeis. Precisamos de leis que imponham a equidade salarial e políticas públicas que coloquem a obrigatoriedade de mulheres no mercado de trabalho com remuneração compatível, até porque as mulheres têm escolarização maior do que a média dos homens. O que não quer dizer que não precise se investir na capacitação delas.
Segundo a professora, que desenvolveu tese de doutoramento sobre a desigualdade de gênero no mercado de trabalho na região metropolitana de Porto Alegre, se não houver aparelhos públicos,
como creches e instituições de educação infantil, não há possibilidade das mulheres trabalharem e se desenvolverem.
— Uma brincadeira que fazemos é que o buraco no nosso currículo é casar e ter filhos. Existe a crença de que as mulheres precisam escolher se querem ter carreira ou ser mãe. O que é extremamente injusto porque para fazer um filho é preciso duas pessoas. Mas só o gênero feminino é penalizado profissionalmente com relação a esta escolha - critica Cibele.
Mundo O apontamento feito pela professora vai de encontro ao que indica o coordenador do Pucrs Data Social, André Salata. Para ele, uma das razões para a desigualdade salarial entre homens e mulheres é o fato delas terem de se dividir entre maternidade, mercado de trabalho e tarefa doméstica. Outras causas apontadas por Salata são a concentração masculina em áreas de maior remuneração, a preferência dos empregadores por homens em cargos de maior prestígio e a ZERO HORA, SEGUNDA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2023
Andressa Paltiano assumiu compromisso de fóriateser a presença feminina na empresa que fundou, e hoje lidera 20 funcionárias discriminação pura, onde numa mesma empresa há diferença salarial entre homens e mulheres no mesmo cargo.
As diferenças salariais entre homens e mulheres vão muito além do Estado. Em 2022, 97 de
190 países analisados pelo Banco Mundial tinham leis próprias exigindo a paridade salarial entre gêneros, de acordo com o relatório anual Mulheres, Empresas e o Direito, do banco internacional de desenvolvimento.
No estudo, a instituição reforçou que, “embora as leis sejam o primeiro passo para garantir igualdade de gênero, implementação inadequada e fiscalização fraca continuam sendo barreiras críticas para o avanço dos direitos e oportunidades das mulheres”.
Também no ano passado,
o diagnóstico do Relatório Global de Desigualdade de Gênero,
elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, analisou 146 economias diferentes, incluindo o Brasil, e apontou que cinco países tiveram nota maior do que
0,8 para o critério de igualdade salarial para trabalhos iguais: Albânia (0,845), Burundi (0,840),
Argélia (0,812), Islândia (0,812)
e Singapura (0,805).
A escala é até 1 e nenhum país chegou à pontuação máxima, que indica maior igualdade. A nota do Brasil foi 0,559, deixando o país Je [aa Liar Letra ço!
RAR ETA A]
na 117º posição da lista.
Foi por conhecer de perto esse cenário que a especialista em recursos humanos Andressa Paltiano decidiu fortalecer a presença de mulheres na empresa do ramo de recrutamento e seleção em tecnologia fundada por ela, no ano passado. A decisão foi tomada com base nas próprias memórias.
Na época em que era funcionária, Andressa costumava ser uma das únicas do gênero feminino em cargo de gestão onde atuava,
em locais onde tinham até 30
pessoas em funções semelhantes.
Como a empresa criada por ela está focada em tecnologia, hoje uma das áreas conhecidas por levantar a bandeira da equidade salarial de gênero, e os próprios clientes dela priorizam a contratação de mulheres, a empresária tomou a decisão. Hoje, com 20
colaboradoras espalhadas pelo Brasil, Andressa sonha em gerar mais vagas ao gênero feminino.
- Entendo que quando eu troco de lado, tenho que saber o que não funciona e melhorar no meu negócio. Uma das questões estava relacionada à questão do gênero. Quando passo de empregada para empregadora, vejo que, como mulher, tenho a obrigação de priorizar a contratação de outras mulheres e colocá-las à frente — explica Andressa.
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Estudo do PUCRS Data Social mostra desigualdade de gênero no mercado de trabalho
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