RB Opinião FOLHA DE LONDRINA, 21 a 23 de abril de 2023
RIR
| EDITORIAL A identidade de Londrina Para comemorar seus 30 anos, o Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina) realizou uma sondagem, divulgada em março, com uma provocação sobre a identidade do londrinense. A pesquisa feita nos canais online da prefeitura resumiu da seguinte maneira a cidade. O termo de referência mais lembrado pelos 665 participantes foi pé-vermelho (41,9%), pouco mais de um terço escolheram Pequena Londres (35,4%)
eapenas 6,76% cravaram Capital do Café.
Londrina estaria perdendo sua conexão com o passado glorioso, iniciado quase há 90 anos quando um grupo de investidores ingleses começou a percorrer os estados de São Paulo e Paraná em busca de novos negócios?
Quando chegaram por aqui o imensidão de terra vermelha tinha palmitos, figueiras e perobas. Mas o cenário mudou conforme o século 20 avançava na velocidade daqueles tempos de descobertas surpreendentes.
Quinze anos depois da fundação da Companhia de
[ESPAÇO ABERTO O que é cultura, afinal de contas?
Leio e vejo um áudio vexatório, em toda mídia social que visito, onde um desembargador do Tjpr disse que o estado do Paraná é mais culto do que estados de norte e nordeste.
Noves fora a bobagem sem tamanho que a fala do desembargador convola, é preciso também medir o pulso doalcance de tolice, para que se estabeleça a real condição dos estados de norte e nordeste, sem desmerecer o Paraná.
Vamoslá, então.
O Nordeste se caracteriza por seu espectro cultural diversificado, naquilo que recebeu influencias das mais diversas - de povos originários a africanos (ciclo da cana de açúcar), passando por europeus (colonização, by the way).
Nessa medida, essa miscigenação aportou em manifestações folclóricas e populares, desaguando em uma extraordinária produção literária (João Cabral + Jorge Amado +
Rachel de Queiroz + Gregório de Matos + Clarice Lispector
+ Graciliano Ramos + Manuel Bandeira + Torquato Neto +
Ferreira Gullar...).
A região norte, a seu tempo e tanto quanto, contabiliza afortunada miscigenação (povos originários + imigrantes cearenses, gaúchos, paranaenses, nordestinos, africanos, europeus e asiáticos) em ordem a revelar diversidade cultural fomentadora (dentre outras) do folclore que contrapõe seus bois (Garantido e Caprichoso) históricos e mundialmente conhecidos, que não são senão o desenho das histórias locais...
Vejo, então, norte e nordeste ricamente miscigenados e com aporte de cada um dos amálgamas culturais dos poTerras Norte do Paraná e pouco mais de uma década depois da chegada da primeira expedição, o censo de 1940
já apontava que naquelas mesmas terras havia surgido uma aglomeração de 75 mil habitantes, o que dava a Londrina a condição de segundo município mais populoso do interior do Paraná, abaixo apenas de Guarapuava. O sucesso instantâneo do modelo de colonização da companhia, como contam os livros, está relacionado a um projeto imobiliário inovador, vendido com muita propaganda no mundo inteiro, a partir de promessa de documentação garantida (o que reduziria muito os habituais conflitos pela posse, comum à época em outras regiões desbravadas), de pequenos lotes, do pagamento facilitado e da garantia de posse definitiva em quatro anos. Protagonista deste início de sucesso, a cafeicultura trazia riqueza e imprimia à cidade uma história vencedora. Tanto que uma placa indicava aos forasteiros que chegavam a Londrina: alise localizava a Capital Mundial do Café.
vos que se lhes originaram e deram a rica e desenvolta sequência que se lhes caracteriza - nada poderia ser mais Brasil, pois, quenorte enordeste.
E o Paraná do desembargador empombado? Sinto informar ao apedeuta que nossa (afinal sou um paranaense,
ainda que muito diferente do togado) cultura é fruto de desenvolvimento próprio, o que não é bom ou ruim, per si,
ainda que seja o suficiente para desdizer a fake news (eufemismo de mentira) do magistrado, que acredita que cultura é branca e descendente de europeus. Não é!
Nossa literatura está maravilhosamente salva pelo gênio de Leminski (que o senhor talvez nem tenha lido) e nosso teatro é estupendo (obrigado Nitis Jacon). Pensei falar do camaval curitibano mas achei melhor calar...
Ainda que tenha veneta paranaense (afinal vivo aqui desde meus dezessete anos, casei e formei família com uma fabulosa pé-vermelho que amo com paixão), não me autorizo sobrepô-la à realidade das coisas.
Chamar o norte nordeste às falas comparativas em questão cultural é desconhecer a vida e a arte que deu origemávida...
Afinal, o que é cultura? Cultura não é senão a somatória das atividades desenvolvidas pelos povos, compondo em sua essência conceitual um amálgama de acepções.
Antropologicamente falando, cultura açambarca a somatória de conhecimento + crenças + arte + moral + costumes entre outros hábitos socais, que o homem adquiriu enquanto partícipe social - conforme Tylor, in Primitive cultere.
Nosso Paraná, por revelar um espectro cultural próprio
(o que não é bom nemruim, repito!), não contabiliza tanta influência de outros afluentes. Nesse sentido não pode ser As décadas se passaram, o título ufanista ligado à cultura cafeeira caiu no esquecimento e a metrópole regional contemporânea tem que parar para pensar o que se tornou e como é vista agora.
Embora o café tenha saído de cena há muitos anos,
não é possível desmembrá-lo do conceito de Londrina,
tanto que sua imagem está no icônico Cine Teatro Ouro Verde, no escudo do Londrina Esporte Clube, na Rodovia do Café, entre outros.
Em reportagem desta edição da FOLHA, o professor Leandro Henrique Magalhães, um estudioso do patrimônio cultural e da economia criativa, analisa que o café segue sendo uma marca importante, ainda que os elementos contemporâneos ganhem espaço no processo de amadurecimento.
Embora as novas gerações não tenham presenciado a força e a beleza do “ouro verde”, é certo que o café dificilmente cairá no esquecimento, pois são tantas as referências, elementos, livros e pesquisas sobre esse grão que alicerçou os primeiros anos do município que hoje diversificou suas riquezas.
Obrigado por ler a FOLHA!
visto e reconhecido enquanto superior a norte nordeste - a não ser que o ponto de partida da comparação esteja limitado ao arcabouço colonizador europeu...
Se essa for a realidade do togado, sinto desdizê-lo ainda uma vez e em seu campo, suposto que levar em conta apenas e tão somente aspectos alusivos à colonização para considerar um povo superior a outro, nunca deu certo na história da humanidade. Foi, por exemplo, esse equívoco cultural que propiciou a ascensão do nazismo e do fascismo em Europa...
Não por acaso a polícia federal aloca no Paraná o maior número de células nazistas no Brasil. Será que pensar no modelo colonizador enquanto formador do caráter de um povo contribuiu para a ascensão dos nazistas por aqui?
Desembargador, respeitosamente lembro que a toga que ostentas não é vossa. Está vossa. Ela pertence ao glorioso poder judiciário do Paraná que produziu verdadeiras lendas das letras jurídicas - enquanto advogado me contenho para não citar qualquer um dos muitos com os quais convivi. De toda sorte e por todos não posso deslembrar o extraordinário Luiz Viel, a quemrendo homenagens.
Assim é que antes de falar em cultura, devemos estabelecer os parâmetros que lhe são caros para, assim, não cometer contra norte-nordestinos a barbaridade ofensiva que não os desmerece, ainda que mostre quão pequeno possa ser 0 viés comparativo.
Aqui seria o instante mágico de lembrar Nabokov:
'na escala das medidas universais há um ponto onde imaginação e conhecimento se cruzam. Um ponto em que se atinge a diminuição de coisas grandes e o aumento das coisas pequenas...”
Norte e Nordeste são cultura em forma bruta.
Tristes trópicos, onde o colonizador fez herdeiros de pensamentos pela terra que saqueou. Saudade Pai.
João dos Santos Gomes Filho, advogado Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhe são inerentes. | Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo
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