JORNADA ESPORTIVA ESTA PÁGINA CONTÉM INFORMAÇÃO E OPINIÃO NO ATAQUE Rg ARS a UR bras BRL DSI SAO LIMITE DAS PESSOAS PARA REVERENCIAR UM ATLETA ZERO HORA, SÁBADO E DOMINGO, 3 E 4 DE JUNHO DE 2023
DIOGO OLIVIER diogo.olivierOzerohora.com.br
(diogo olivier
O jovem tenista Thiago Wild se tornou notícia em todos os veículos de comunicação ao derrotar o número 2 do mundo em Roland Garros Vem aí um debate complexo no esporte por envolver paixão e sentimento pátrio, seja lá o que for exatamente sentimento pátrio. Há várias pontas e camadas nessa discussão. Qual o limite para torcer por um representante do seu país em qualquer modalidade? Nossa tendência natural é adotar cegamente um lado desde que a bandeira verde e amarela identifique,
do futebol ao bobslead. Esta semana, um novo candidato a ídolo se estabeleceu no Brasil e no tênis.
Thiago Seyboth Wild virou notícia ao derrotar o número 2 do mundo,
o russo Daniil Medvedev, na primeira rodada de Roland Garros.
Ele veio do qualifying, disputado por jogadores de ranking insuficiente e cujo prêmio é um lugar na rodada inaugural.
Na primeira das três conquistas no saibro sagrado francês, em
1997, Gustavo Kuerten também foi uma surpresa. Seja qual for a campanha de Thiago, o imaginário popular passou a perguntar se, enfim, nascera o sucessor de Guga. Eis a questão mais fácil de responder nesse debate. Não,
Thiago não é um novo Guga. Pode ser que o talento deste paranaense com raízes gaúchas o leve a uma carreira brilhante, mas a diferença de temperamento e conduta para Guga é astronômica. Guga era amado por unanimidade até pelos adversários de tão gente boa, ao passo que há relatos de antipatia e matizes provocativas em Thiago.
Guga se aposentou sem polêmicas,
enquanto Thiago já coleciona algumas pesadas aos 23 anos.
Ele foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Paraná por descumprir isolamento mesmo infectado, durante a pandemia. O tenista nega aglomeração, vale dizer. Wild tem seu nome envolvido em denúncias contra a mulher nos últimos dois anos. Dois processos no MP-RJ chegaram a ser abertos para investigar acusações de sua ex-namorada Thayane Lima. Um de violência doméstica e psicológica. Outro pedindo indenização por danos morais. Os dois restaram arquivados. Um terceiro está em andamento e corre em segredo de Justiça. Wild, de sua parte, a acusa de tentativa de extorsão e move processo exigindo exclusão de posts nas redes sociais. Tudo estava nesse âmbito até a reportagem publicada nessa sexta-feira pelo jornal O Globo.
Justiça Prints de conversas via celular com a ex-namorada mostram comportamento tóxico, para dizer o mínimo. O conteúdo violento,
abusivo e machista do material publicado por O Globo será duro de justificar por parte de Thiago.
De qualquer maneira, aguardemos. A Justiça dirá quem tem razão. O episódio nos convida a refletir até onde dá para separar o ídolo de sua vida pessoal. Aqui,
não se trata de privacidade. Todos têm direito a sua, ainda que Leia outras colunas em gzh.com.br/diogoolivier as fronteiras sejam obviamente diferentes no caso das figuras públicas. Devemos torcer fanaticamente por alguém só por que nasceu no mesmo país, como se fosse lei imutável a cumprir sob pena de traição? Antes de responder, um parêntese importante.
Os senões para torcer por alguém da sua terra não devem incluir partidos ou ideologias — salvo atrocidades como o nazismo, é claro. Do contrário, direitistas não poderiam festejar Pelé, que foi ministro de FHC, por eles considerado comunista e crítico da ditadura militar. Esquerdistas terão de se desculpar das vezes que vibraram nos gols de Neymar e outros craques. Duvido que algum argentino conservador não ame Maradona,
que era amigo de Fidel e fã de Che Guevara. Nem que El Diéz tenha deixado de pular com eleitores conservadores em algum gol do Boca na Bombonera. Ídolo algum chega ao topo sozinho.
Você pode discordar e estabelecer marcos mais rigorosos para essa distinção. Bem, avisei que o tema era complexo. O que não dá mais para separar é o resultado do esporte enquanto álibi para crimes como racismo, homofobia, violência contra a mulher. A torcida do Corinthians expurgou Cuca do cargo de técnico do Corinthians. O Santos contratou e descontratou Robinho. O Pumas,
do México, rescindiu com Daniel Alves. O planeta protestou contra os absurdos cometidos contra Vini Jr na Espanha. Não se aceita mais 0 império do resultado como emblema da lógica segundo a qualos fins justificam os meios.
Torcer para Guga era um misto de orgulho e prazer de ser brasileiro.
E por Thiago Wild, como será?
A menos que surja prova em contrário que o inocente, será difícil. Para não dizer impossível.
Se Thiago quiser ser um ídolo do Brasil, o jovem e talentoso tenista terá de se explicar com transparência, em vez de silenciar e reclamar das perguntas sobre as acusações que pesam contra si. Só vencer jogos e ganhar títulos não resolve mais.
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Por quem torcer?
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