O "Sem Filtro" de hoje (25) vai contar a história de uma mãe que perdeu a guarda de seu filho de dez meses porque, de acordo com a Justiça, sua rotina de trabalho era "difícil". Josiane Lima, 29, é comissária de bordo e alega que nem tinha voltado a voar quando foi tomada a decisão. Atualmente, a guarda provisória da criança pertence ao pai. O caso corre em Maringá, no Paraná, e Josiane disse que vai recorrer.
A revolta da mãe parte principalmente do fato de o pai deixar a criança numa creche durante o dia, para poder trabalhar. "O juiz determinou que eu podia ver a criança apenas três horas por dia e em finais de semana alternados", conta Josiane. Em suas folgas, ela pega o bebê na creche e fica com ele durante o período permitido. Ela diz que sua briga é apenas com a Justiça, não com o pai.
Universa teve acesso a documentos do processo, como o parecer do Ministério Público do Paraná para que fosse estabelecida a guarda compartilhada —parecer esse ignorado pela sentença.
Na decisão da 2ª Vara de Família e Sucessões do Paraná, é citado o argumento de que a mãe "possui uma rotina de trabalho delicada" e que, por isso, "não é possível entender que poderá se responsabilizar pelo filho todos os dias".
O Tribunal de Justiça do Paraná e o MP-PR foram procurados pela reportagem, mas não responderam ao pedido de entrevista.
Preconceito com a profissão
Josiane disse que não pensaria duas vezes em trocar de profissão para ficar com a guarda do filho, mas o salário e os benefícios acumulados em uma carreira de dez anos garantem boa parte do bem-estar da criança, como o como auxílio creche e plano de saúde.
"Que o Estado me dê, então, um emprego que tenha o mesmo salário para ficar em tempo integral em casal com meu filho. É muita injustiça uma mulher, no século 21 , ser discriminada por sua profissão. Temos que escolher um trabalho que possa ser conciliado com trabalho? Se fosse isso, enfermeiras, médicas e várias outras profissões que fazem plantão não poderiam ter a guarda dos filhos. E são profissões dignas. Não tem nexo", diz.
Para a advogada Ana Lúcia Dias, especialista em direito das mães, a decisão do juiz afronta o protocolo de julgamento de perspectiva de gênero do Conselho Nacional de Justiça. "O que vejo, nessa sentença é uma punição à mulher", disse para Universa. "É uma violência de gênero. Essa mãe não pode perder a guarda por ser comissária de bordo. A não ser que o pai ficasse 24 horas por dia disponível para o filho. É uma decisão violenta", completa.
"Vamos apelar, expor e mostrar que a decisão do juiz da Vara da Família de Maringá foi preconceituosa e sem cabimento", diz a comissária. "Não se pode julgar uma pessoa por ela trabalhar dignamente, ainda mais com as provas de que a criança sempre morou comigo. Ele foi arrancado de mim, do meu convívio, e as provas foram ignoradas", diz a comissária.
Outros assuntos
O programa também trará uma conversa sobre a pressão popular para que o presidente Lula (PT) indique uma mulher para a vaga de Rosa Weber no STF (Supremo Tribunal Federal). A ministra se aposentará em outubro. Segundo a coluna da Mônica Bergamo, no jornal "Folha de S. Paulo", existe uma lista informal com quatro nomes para serem indicados para a vaga: a ministra do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Regina Helena Costa, a desembargadora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, Simone Schreiber, e as advogadas Dora Cavalcanti e Flávia Rahal.
Nossas apresentadoras também vão falar sobre o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Em entrevista à Universa, Zezé Motta contou quando começou a estudar mais para se proteger do racismo e combater a discriminação.
O "Sem Filtro" ainda tem história sobre futebol. Vamos lembrar que a modalidade já foi proibida no Brasil e que mulheres chegaram a ser detidas. Falamos com a ex-jogadora e técnica da Seleção Feminina Sub-17 do Futebol 7, Dilma Mendes, que foi levada à delegacia algumas vezes por participar de partidas na rua quando era adolescente.
Profissão faz mãe perder a guarda do filho de 10 meses: 'Arrancado de mim'
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