"Me tiraram tudo. Me tiraram a dignidade, me tiraram a liberdade, tiraram minha família, destruíram tudo. Só o que não conseguiram tirar de mim foi a minha fé", falou.
"Me tiraram tudo. Me tiraram a dignidade, me tiraram a liberdade, tiraram minha família, destruíram tudo. Só o que não conseguiram tirar de mim foi a minha fé", falou.
Estas foram as palavras do pai de santo Osvaldo Marcineiro, agora inocente pelo crime conhecido como Caso Evandro, após decisão da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Por três votos a dois, a Corte anulou as condenações dele e de outros três acusados de envolvimento no crime, na quinta-feira (9).
Osvaldo foi um dos sete acusados de assassinar Evandro Caetano Ramos, de seis anos, que desapareceu em abril de 1992, em Guaratuba, litoral do Paraná. Pelo crime, Osvaldo ficou 10 anos preso.
Além dele, os desembargadores anularam os processos de Beatriz Abagge, Davi dos Santos Soares e Vicente de Paula Ferreira – falecido em 2011.
Na prática, a decisão significa que todas as pessoas condenadas no processo que apurou a morte do menino Evandro Ramos Caetano, em Guaratuba, no litoral do Paraná, são inocentes.
Os magistrados chegaram a esta conclusão após fitas de áudio com os indícios de tortura se tornarem públicas no podcast Projeto Humanos, do jornalista Ivan Mizanzuk. Ouça os trechos.
"Até agora parece que não caiu a ficha ainda, sabe? É uma notícia que eu esperava todo dia, nesses anos todos que a gente passou, principalmente dentro daquele presídio", disse Osvaldo.
"Até agora parece que não caiu a ficha ainda, sabe? É uma notícia que eu esperava todo dia, nesses anos todos que a gente passou, principalmente dentro daquele presídio", disse Osvaldo.
À RPC, Osvaldo afirmou que nenhum dinheiro mudará o que passou, mas que pedirá indenização ao estado para ajudar os filhos que, segundo ele, também sofreram durante o processo e não tiveram acesso à faculdade, por exemplo.
Ele contou, também, que durante os anos em que esteve preso, uma das maiores dores sentidas foi não poder comparecer ao falecimento do próprio pai, em 1995.
"Muitos falam assim: 'Mas que sorte aquelas fitas'. Não foi sorte, não. Foi Deus que escreveu na nossa história, foi Deus que trouxe aquilo pra gente", disse.
"Muitos falam assim: 'Mas que sorte aquelas fitas'. Não foi sorte, não. Foi Deus que escreveu na nossa história, foi Deus que trouxe aquilo pra gente", disse.
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O que dizem os envolvidos
Por meio de nota, o advogado Antonio Figueiredo Basto, que defende os agora inocentados, afirmou que "a justiça foi feita". Além disso, destacou o trabalho do jornalista Ivan Mizanzuk e afirmou, ainda, que os agora inocentes vão pedir indenização na Justiça.
Em nota, o Governo do Paraná afirmou que não faz parte do processo julgado, por isso, "neste momento, cabe ao Ministério Público decidir se irá recorrer da decisão nos tribunais superiores".
Até a publicação desta reportagem, o MP-PR não tinha informado que ações tomaria frente a decisão dos desembargadores pela anulação. Não cabe recurso da decisão.
No curso do Caso Evandro, o MP sustentou que não havia existido tortura nas investigações da polícia. Na sessão de quinta (9), entretanto, o órgão foi favorável à revisão criminal.
Quem eram os acusados
Sete pessoas foram acusadas de envolvimento no assassinato:
Airton Bardelli dos Santos
Francisco Sérgio Cristofolini
Vicente de Paula
Osvaldo Marcineiro
Davi dos Santos Soares
Celina Abagge
Beatriz Abagge
Na época, as investigações apontaram que Beatriz Abagge e a mãe dela, Celina Abagge, então primeira-dama de Guaratuba, teriam encomendado a morte do menino em um ritual. Elas passaram mais de cinco anos na cadeia.
Outras cinco pessoas foram incriminadas, entre elas, Davi e Osvaldo, que também foram presos acusados de sequestrar e matar o garoto.
O caso teve cinco julgamentos diferentes. Um dos tribunais do júri, realizado em 1998, foi o mais longo da história do judiciário brasileiro, com 34 dias.
Na época, a Beatriz e Celina foram inocentadas porque não houve a comprovação de que o corpo encontrado era do menino Evandro.
O Ministério Público recorreu e um novo júri foi realizado em 2011. Beatriz, a filha, foi condenada a 21 anos de prisão. A mãe não foi julgada porque, como ela tinha mais de 70 anos, o crime prescreveu.
As penas de Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos se extinguiram pelo cumprimento. O último réu, Vicente de Paula, morreu por complicações de um câncer em 2011 no presídio onde estava.
Desaparecimento de Evandro
O menino Evandro desapareceu em 6 de abril de 1992. À época, o Paraná vivia o desaparecimento de diversas crianças na região.
Segundo a investigação, ele estava com a mãe, Maria Caetano, funcionária de uma escola municipal de Guaratuba, e disse a ela que iria voltar para casa após perceber que havia esquecido o mini-game. Depois disso ele nunca mais foi visto.
Após um corpo ser encontrado em um matagal, no dia 11 de abril de 1992, o pai de Evandro, Ademir Caetano, afirmou à época no Instituto Médico-Legal (IML) de Paranaguá ter reconhecido o filho, por meio de uma pequena marca de nascença nas costas.
Conforme informações da época, o corpo estava sem o couro cabeludo, olhos, pele do rosto, partes dos dedos dos pés, mãos, com o ventre aberto e sem os órgãos internos.
Ademir Caetano também era funcionário público da cidade, ele trabalhava na prefeitura de Guaratuba. Maria e Ademir tinham outros dois filhos, Márcio e Júnior. Evandro era o caçula.
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