Em entrevista à RPC, o jornalista e podcaster Ivan Mizankuk contou que o desdobramento judicial do Caso Evandro a partir do trabalho que fez foi uma surpresa.
"Eu não esperava ter prova nova quando eu comecei o meu trabalho. Se você for pensar, eu comecei a pesquisa em 2015 e fui achar essas fitas lá em 2019. Então foram 4 anos de investigação e depois a gente encontrou prova nova, foi muito surpreendente e mais surpreendente ainda ver esse resultado", afirma.
"Eu não esperava ter prova nova quando eu comecei o meu trabalho. Se você for pensar, eu comecei a pesquisa em 2015 e fui achar essas fitas lá em 2019. Então foram 4 anos de investigação e depois a gente encontrou prova nova, foi muito surpreendente e mais surpreendente ainda ver esse resultado", afirma.
Na quinta-feira (9), desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) anularam as condenações dos acusados de envolvimento no crime que ficou conhecido como "Caso Evandro" ou "As Bruxa de Guaratuba".
Em 1992, o menino de seis anos de idade, sumiu no trajeto entre a casa onde morava e a escola, e foi encontrado morto com sinais de violência, em Guaratuba, no litoral do Paraná. Sete pessoas foram acusadas pelo crime e quatro foram condenadas.
Por 3 votos a 2, os desembargadores absolveram Beatriz Abagge, Davi dos Santos Soares, Osvaldo Marcineiro e Vicente de Paula Ferreira – falecido em 2011.
Os magistrados chegaram a essa conclusão após fitas de áudio com os indícios de tortura se tornarem públicas.
Os áudios foram encontrados em minifitas cassetes por Mizanzuk e revelados em uma série documental da Globoplay, baseada no podcast Projeto Humanos.
As gravações indicam que os réus confessaram os supostos crimes mediante tortura e recebendo instruções para a confissão. Ouça trechos dos áudios aqui.
As fitas com as gravações estavam nos autos do processo desde a época da condenação, porém, a versão utilizada para incriminar os réus não tinha os trechos que indicam a tortura. A versão considerada pelos desembargadores é a íntegra da gravação.
'Era tranquilamente fácil de encontrar essas fitas na época', diz Mizanzuk
Por conta do sigilo da fonte, o jornalista prefere não revelar como conseguiu acesso as fitas. Porém, garante que, na época do crime e das investigações, o acesso a elas era fácil.
"Eu posso dizer que a pessoas que tinha as fitas não tinha noção do conteúdo dela, eu que corri atrás dela e posso dizer que era tranquilamente fácil de encontrar essas fitas na época", compartilha.
Relevância dos áudios
Por meio de nota, a defesa dos inocentados destacou o trabalho de Mizanzuk.
"A Justiça foi feita. Nada disso seria possível se não fosse o brilhante trabalho do Sr. Ivan Mizanzuk, que, sem a pressão da época, logrou obter as fitas que haviam sido escondidas pelo Grupo Águia da Polícia Militar", afirma.
Para os advogados, a decisão é um marco histórico.
"O julgamento de hoje é uma lição para o presente e para o futuro. Os Desembargadores Adalberto Jorge Xisto Pereira, Gamaliel Seme Scaff e Sérgio Luiz Patitucci fizeram história ao deixar claro que a tortura não será aceita como método de investigação", afirmaram, fazendo referência aos desembargadores que votaram favoráveis a revisão.
Foram os áudios obtidos pelo jornalista que embasaram o pedido de revisão criminal, protocolado pela defesa dos acusados em 2021. Na época, pareceres técnicos apontam que houve violência física durante os depoimentos.
Em agosto de 2023, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) aceitou o uso dos áudios completos como prova. As fitas estavam no processo desde o início, mas para o trâmite, foram usados trechos editados que mostravam apenas a confissão, suprimindo as torturas.
No podcast e na série da Globoplay, Beatriz Abagge detalhou a violência que sofreu por policiais que a interrogaram. Em 2022, o Governo do Paraná fez uma carta com pedido de perdão pelas torturas cometidas contra ela.
“Eles me ditavam e quando eu errava, eles paravam essa fita e ditavam de novo. Se eu errasse, me davam choque de novo. Até sair o que eles queriam”, disse Beatriz na série documental.
Quem eram os acusados
Sete pessoas foram acusadas de envolvimento no assassinato de Evandro:
Airton Bardelli dos Santos
Francisco Sérgio Cristofolini
Vicente de Paula
Osvaldo Marcineiro
Davi dos Santos Soares
Celina Abagge
Beatriz Abagge
O caso teve cinco julgamentos. No último, em 2011, Beatriz Abagge foi condenada a 21 anos de prisão. Celina, mãe dela, não foi julgada por tinha mais de 60 anos e o crime prescreveu.
As penas de Osvaldo Marcineiro e Davi dos Santos se extinguiram porque eles haviam permanecido presos por força de decisões anteriores. Vicente de Paula, outro réu, morreu de câncer no presídio.
Francisco Sérgio Cristofolini e Airton Bardelli foram absolvidos em 2005.
Desaparecimento de Evandro
O menino Evandro desapareceu em 6 de abril de 1992. À época, o Paraná vivia o desaparecimento de diversas crianças na região.
Segundo a investigação, ele estava com a mãe, Maria Caetano, funcionária de uma escola municipal de Guaratuba, e disse a ela que iria voltar para casa após perceber que havia esquecido o mini-game. Depois disso ele nunca mais foi visto.
Após um corpo ser encontrado em um matagal, no dia 11 de abril de 1992, o pai de Evandro, Ademir Caetano, afirmou à época no Instituto Médico-Legal (IML) de Paranaguá ter reconhecido o filho, por meio de uma pequena marca de nascença nas costas.
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