Fachada do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília / Crédito: Abdias Pinheiro/TSE
A ascensão da inteligência artificial (IA) indica que ela será uma das forças mais influentes das eleições municipais de 2024. Em um cenário recheado de incertezas e ainda pouco regulado, devemos ver a ferramenta sendo utilizada desde a análise de dados eleitorais até a produção de conteúdos variados, além, claro, na disseminação de desinformação.
Apenas 15% da população nunca ouviu falar de ferramentas de IA. Contudo, embora a maioria tenha conhecimento da existência destas soluções, 59% nunca as utilizaram. Apesar disso, 43% dos brasileiros acreditam que elas são uma fonte confiável de informação. O número sobe para 53% quando consideramos apenas a faixa etária entre 18 e 24 anos.
Os dados, da pesquisa Tracking Sintonia com a Sociedade 2023, indicam não apenas uma falta de familiaridade, mas também uma subutilização significativa das potenciais capacidades oferecidas e lacuna crítica na preparação e no engajamento do eleitorado brasileiro.
Disparidades na forma como diferentes grupos são alcançados e engajados durante a campanha ampliam desigualdades existentes e minam a representatividade e a legitimidade do processo eleitoral, e consequentemente, também influenciam negativamente a integridade e a transparência dele.
No dia 27 de fevereiro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou 12 resoluções eleitorais com as regras finais do pleito municipal, que terá o primeiro turno no dia 6 de outubro. Com intuito de proteger informações verdadeiras e dar valor à humanização do processo eleitoral, ficou vedado o uso de deepfakes e a aplicação de chatbots que simulem conversas com o candidato, por exemplo.
A iniciativa é válida e representa um papel importante para assegurar a privacidade dos votantes, garantir a transparência nas práticas de coleta e uso de dados e combater a disseminação de desinformação online. Mas, agora, enfrenta a grande dificuldade de controlar e fiscalizar de forma efetiva todos os candidatos: missão que se torna praticamente impossível sem utilizar a própria IA, que ajuda o ser humano a apontar quando são realizados determinados tipos de movimentos e coibir utilizações indevidas.
A IA é capaz de processar grandes volumes de informações, identificar padrões, prever tendências em um tempo muito curto. Assim, pode tanto influenciar estratégias de campanha como gerar conteúdos persuasivos e enganosos, adotando estatísticas falsas, pesquisas que não existem ou ligando um fato e o conectando a um ideal político.
Essa ligação nos leva a outro ponto importante, que é a polarização existente em todo mundo e especialmente no Brasil. Ela faz com que qualquer informação verídica não se torne confiável a determinado grupo, que seguirá preferindo acreditar em um conteúdo falso que está de acordo com a linha de raciocínio adotada.
A IA está sendo cada vez mais empregada no engajamento do eleitor. Chatbots, como o do próprio TSE, que existe desde 2022, assistentes virtuais e algoritmos de recomendação fornecem informações sobre candidatos e questões políticas, coletam dados referentes às preferências e opiniões dos votantes, permitindo campanhas personalizadas e direcionadas.
É fundamental que sejam implementadas estratégias para educar e capacitar o brasileiro sobre o uso da IA, no geral, e agora nas eleições. Isso inclui iniciativas de conscientização pública, programas de educação digital e políticas que promovam o acesso equitativo às novas tecnologias.
Além disso, a fiscalização de irregularidades deve ser objetiva e ágil, seja com robôs ou com humanos. Somente assim podemos garantir que seja utilizada de forma ética, transparente e inclusiva no processo democrático brasileiro.
Valter Lima – Diretor-executivo e empresário, sócio Da ctc. Graduado em administração de empresas e pós-graduado pela Fundação Dom Cabral, também participou do Business Executive Program na Universidade Stanford (EUA)
As eleições da inteligência artificial
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