Na semana passada, um vídeo circulou nas redes sociais no qual uma suposta médica alertava a população dizendo que uma instituição estaria misturando vacinas contra a Covid e de prevenção à gripe influenza, aproveitando as “sobras” das campanhas de vacinação, com o propósito “de acabar com metade da população mundial”. O mais absurdo desse episódio é que tal vídeo foi compartilhado – sabe-se lá com quantas pessoas – por alguém que tem formação superior e que, suponho, acreditou nessa asneira.
Esse é um dos milhares exemplos de malefícios que a desinformação que grassa na internet causa à população, que fica vulnerável também, entre outras coisas, a golpes digitais e exposta a mensagens criminosas com notícias falsas de todas as naturezas. As fake news sempre existiram, é verdade, mas nos últimos tempos ampliaram o seu poder destrutivo com a popularização das redes sociais turbinadas pelos algoritmos que multiplicam as mensagens que chegam a milhões de pessoas em poucos minutos.
É por isso que inúmeras instituições em todo o mundo têm reagido a essas ervas daninhas e buscado, através de propostas de regulação das redes sociais, organizar esse universo de “vale-tudo” para criar condições que possibilitem a responsabilização dos autores das mensagens criminosas. Tais movimentos, via de regra, enfrentam gigantescas reações das big techs que, sob o argumento de que é preciso preservar a liberdade de expressão, resistem a toda e qualquer espécie de regulação.
Essa é uma das razões pelas quais dez instituições ligadas aos poderes públicos do Espírito Santo, tendo à frente o Tribunal de Contas do Estado, firmaram, no dia 24, um termo de cooperação para, em conjunto, “combater a desinformação e desenvolver, por meio de uma rede, estratégias de comunicação de forma coordenada”.
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Além do Tces e dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), assinaram o acordo seis outras instituições (TRE-ES, Ministério Público do ES, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Defensoria Pública e Tribunal Regional do Trabalho).
No acordo, as instituições se comprometem a planejar e executar campanhas de comunicação para informar a população “sobre temas de interesse público, com foco em informações verídicas, e desenvolver materiais educativos que possam ser utilizados por todas as instituições”.
Ressaltou o presidente do Tribunal de Contas, Domingos Taufner, na solenidade de assinatura do acordo, que uma das formas de atuar no “enfrentamento das notícias falsas”, é “reafirmar o compromisso com o jornalismo profissional que consegue dar equilíbrio às informações e se responsabiliza pelo que divulga”.
A iniciativa do poder público capixaba está no caminho certo. É evidente que também cabe às pessoas se policiar e não replicar essas fake news que poluem diariamente as redes sociais. Mas, como lembrou na mesma ocasião o vice-presidente da ANJ, Associação Nacional dos Jornais, Carlos Fernando Monteiro Lindenberg Neto, “o combate à desinformação não pode ser uma responsabilidade exclusiva do cidadão” e, por isso, “a luta contra as fake news exige um esforço conjunto”.
Nesse sentido, “jornalistas, governos, instituições, empresas e academia devem atuar de forma coordenada e responsável”, cabendo “à imprensa profissional, baseada na checagem rigorosa dos fatos e no compromisso com a verdade, continuar sendo uma fonte confiável de informação, mas também é fundamental que o poder público se envolva nesse processo de forma transparente, apolítica e comprometida com os valores democráticos”.
O termo de cooperação de combate à desinformação assinado pelas dez instituições capixabas merece o aplauso de toda a sociedade. É importante, como enfatizou o presidente do TRE, Carlos Simões Fonseca, “que ele gere frutos” e “diálogo, transparência, troca de experiências” para que todos saiam “dos nossos casulos” e entendam que a desinformação “é um problema de toda a sociedade”. Afinal, é preciso conclamar, como lembrou o vice-presidente do TJES, Namyr Carlos de Souza Filho que, em qualquer hipótese, “não toleramos a manipulação da informação”.
Tomara que a iniciativa liderada pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo seja um exemplo a ser seguido por instituições de outros estados da federação nessa cruzada, a que todos precisamos aderir, contra os crimes cometidos na internet.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
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